Os cursos universitários a distância costumavam ser tão malvistos na
academia brasileira que ganharam o apelido de "supletivos de smoking".
Lutava-se contra a sua regulamentação, que só se deu em 1996. A má fama
dessa modalidade em que o aluno se forma praticamente sem ir à
universidade - já tão disseminada em países de educação de alto nível -
persiste até hoje no Brasil. Em parte, pela resistência de uma turma
aferrada à velha ideia de que ensino bom, só na sala de aula. Mas também
pelo desconhecimento que ainda paira sobre esses cursos. Uma nova
pesquisa, conduzida pela Fundação Victor Civita, retirou um conjunto
deles dessa zona de sombra, produzindo um estudo que rastreou as
fragilidades e o que dá certo e pode ser exemplar para os demais.
Durante cinco meses, os especialistas analisaram os cursos de oito
faculdades (públicas e particulares) que oferecem graduação a distância
em pedagogia, a área que, de longe, atrai mais alunos - quase 300 000. O
retrato que emerge daí ajuda a desconstruir a visão de que esses cursos
fornecem educação superior de segunda classe. Em alguns casos, eles já
chegam a ombrear com tradicionais ilhas de excelência. Mas, no geral,
resta muito que avançar.
À luz das boas experiências, não há dúvida sobre os caminhos que elevam
o nível. Os melhores cursos souberam implementar o mais básico. "Não dá
para deixar o aluno por si só o tempo inteiro. É preciso fazer uso
constante da tecnologia para conectá-lo ao professor", alerta a doutora
em educação Elizabeth Almeida, coordenadora da pesquisa. Isso significa,
por exemplo, usar a internet para envolver os estudantes em debates
liderados por um mestre que, se bem treinado, pode alçar a turma a um
novo patamar. No panteão das boas graduações a distância, chats, fóruns e
trabalhos colaborativos são constantes, o que ainda não é tão comum
para a maioria. Outra fragilidade brasileira diz respeito ao tutor,
profissional que deve tirar as dúvidas dos estudantes e guiá-los nos
desafios intelectuais. Muitos aqui não estão preparados para a função,
como enfatiza a pesquisa. Os casos bem-sucedidos indicam ainda a
relevância de o aluno não ir à faculdade apenas para fazer prova ou
assistir a aulas esporádicas nas telessalas, como é usual. Ele precisa
ser também incentivado a visitar à vontade a biblioteca e os
laboratórios.
No Brasil, os cursos de graduação a distância eram oferecidos por
instituições pequenas e pouco conhecidas até uma década atrás. Hoje,
esparramaram-se pelas grandes, já atendem 930 000 estudantes e vão
absorver quase um terço dos universitários até 2015 - proporção
semelhante à dos países da OCDE. São números que reforçam a premência da
busca pela excelência. Nos cursos de pedagogia avaliados, foram
detectados os mesmos problemas que têm feito desta uma das áreas de pior
desempenho em todo o ensino superior brasileiro. Sobram teorias de
pouco ou nenhum uso e falta falar sobre o que e como ensinar. Quem
resolver essa equação - na sala de aula ou a distância - estará dando o
decisivo passo para superar a mediocridade.
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